Aquele Que Sabe Escrever
António Lobo Antunes é, entre os vivos, o ficcionista por excelência
António Lobo Antunes é, entre os vivos, o ficcionista por excelência. É bem provável que esta avaliação esteja determinada pela intimidade que este analista possa ter com a língua em que Lobo Antunes escreve. Mas é de intimidade mesmo com uma língua que estamos falando. Ninguém, em língua portuguesa, nos dias de hoje, penetrou com tanta voracidade nas entranhas do idioma. Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? (2009) é uma de suas obras-primas neste século. Novamente a exuberância de seu verbo e a riqueza de sua imaginação linguística como temática se entranham nas sensações do leitor. Tudo nasce desde os títulos estranhamente barrocos de seus livros.
José Saramago, que já morreu, é outro nome famoso da literatura portuguesa de hoje, mas Lobo Antunes vai mais longe que Saramago em suas aventuras do idioma. Os conflitos familiares em denso entrecruzamento de vozes narrativas compõem um perturbador mosaico do interior humano a que somente Lobo Antunes parece ter acesso. As diversas primeiras pessoas dos capítulos narrativos são antologicamente espetaculares. Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? se alinha ao lado de romanções notáveis como Boa tarde às coisas aqui em baixo (2003) e Eu hei-de amar uma pedra (2005) como o testemunho literário de um tempo de demência.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br