A Mestria de Juremir Machado da Silva
A partir de suas longas experiencias em salas de aula, o autor poe em xeque o universo educacional contemporaneo
Nas atividades de Juremir Machado da Silva seu leitor (ou quem acompanha seu trabalho) topa vários seres que formam um só. O múltiplo, e também o denominador comum. Em Escola da complexidade / Escola da diversidade (2023) o Juremir professor é o centro: a partir de suas longas experiências em salas de aula, o autor põe em xeque o universo educacional contemporâneo, puxado entre os modelos antigos e os desafios (especialmente tecnológicos) dos novos tempos. Mas a abertura de cena se dá com um poema dito “Autobiografia”. Conclusão: “Na imensidão do nada, / Saindo do tempo / Como uma lâmina cortada / Aprendendo a ser.” Essencialmente um poeta em todas as suas ramificações (sociólogo, cronista, crítico, ficcionista, historiador, professor), Juremir, em Escola da complexidade / Escola da diversidade, parte do francês Edgar Morin para expor uma série de conceitos que circulam as incertezas da vida com a única certeza que é da meditação múltipla. “Postulado fundamental da complexidade transdisciplinar: somos produtos e produtores daquilo que nos produz”.
Ancorado em sua grande capacidade de leitura —não somente dos muitos livros cujas minúcias aparecem aludidas com precisão em algumas páginas de Escola da complexidade / Escola da diversidade, mas uma leitura das pessoas, os educandos e os educadores de nossa veloz época—, Juremir monta este mosaico vital da educação, algo próximo de um grande afresco, o que aproxima a escrita dos processos pictóricos — temos a intimidade dos desenhos, na vivacidade das palavras de Juremir.
A poesia como mola de todas as coisas? Mário Quintana costumava dizer que tudo deriva da poesia. Juremir assemelha-se a Mário. “Como entender profundamente sem a ciência da poesia? A escola da complexidade valoriza uma pedagogia poética, fazendo ver que a poesia pode estar por toda parte”. O “viver poeticamente” de Edgar Morin: viver por viver. Ou aquela ideia do cineasta espanhol Luis Buñuel, amigo do poeta Federico García Lorca: segundo Buñuel nem a poesia nem o teatro de García Lorca eram grandes, o que era grande era o indivíduo Lorca, ele sim uma poesia viva, uma obra-prima andante.
Escola da complexidade / Escola da diversidade aposta algo nisto ao dizer, observando o mundo: “Conviver com o intelectualmente diverso, em ‘harmonia conflitual’, para usar um oximoro caro a Michel Maffesoli. A frase final diz: “O futuro está na escola”. O que quer dizer: no processo de aprendizagem, sim, mas neste processo tal como ele se dá entre as pessoas, que são sim os verdadeiros poemas incrustados nos cenários.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br