Dois filmes de terror independentes nos cinemas brasileiros
Conheca os filmes Presenca e Desconhecidos, em cartaz nos cinemas


Presença (Presence). EUA, 2024, 84 minutos. Horror/Drama. Colorido. Dirigido por Steven Soderbergh. Distribuição: Diamond Films (nos cinemas)
Família se muda para uma nova casa. Aos poucos a adolescente Chloe (Callina Lang) sente uma força estranha que vem do seu armário. Nem os pais, Rebekah (Lucy Liu) e Chris (Chris Sullivan), nem o irmão, Tyler (Eddy Maday) acreditam nela, que fala haver na casa algo sobrenatural. Porém aos poucos situações assustadoras farão com que a família repense em suas crenças.
Projeto pessoal do cineasta Steven Soderbegh, que realizou aqui um filme curto, de apenas 84 minutos, experimental, filmado inteiramente em cômodos de um sobrado de dois andares, onde alguém espreita os passos de uma família recém-mudada. Para causar a impressão de algo que observa, a câmera assume o caso o ponto de vista (do que seria um espírito ou fantasma, mas nunca o vemos de frente) – todo o momento é a visão dessa entidade, com momentos que alternam a câmera 360 graus, que distorce as laterais do quadro, sem close ou filmagem próxima dos atores. De repente, esse espírito movimenta objetos, chacoalha a cama e derruba copos e livros da prateleira – a explicação virá somente no fim, com um plot twist macabro. Apesar de ser vendido como terror, é mais drama psicológico do que horror sobrenatural.
Foram feitas 30 tomadas e inúmeros planos-sequência, filmado em três semanas em uma mesma casa com poucos atores em cena – senão me engano são oito personagens ao todo. Da metade para frente duas subtramas são criadas que darão sentido ao desfecho: o relacionamento da adolescente com um rapaz popular da escola, que é amigo de seu irmão, e a chegada de uma sensitiva especializada em detectar fantasmas.
Direção, fotografia e montagem de Soderbergh e roteiro de David Koepp, que já escreveu filmes de fantasmas e sobrenaturais, como um que lembra esse, a adaptação do livro de Richard Matheson, ‘Ecos do além’ (1999), com Kevin Bacon.
Pasmem, a história é inspirada numa situação real vivida por Soderbergh – ele e a esposa adquiriram uma residência em Los Angeles onde, segundo consta, uma mãe foi assassinada pela filha. Durante meses o casal vivenciou eventos estranhos e inexplicáveis na residência, como luzes apagando misteriosamente e objetos encontrados em outros lugares.
Exibido nos festivais de Sundance e Toronto de 2024, custou U$ 2 milhões, ou seja, uma fita independente – foi exibido nos EUA em alguns cinemas em 2024, faturou pelo mundo U$ 11 milhões e essa semana chegou aos cinemas brasileiros, com distribuição da Diamond Films.
Soderbergh ganhou o Oscar de melhor direção por ‘Traffic’ (2000) e já realizou filmes populares e cult, como ‘Sexo, mentiras e videotape’ (1989), ‘Onze homens e um segredo’ (2001) e ‘Erin Brockovich: Uma mulher de talento’ (2000). O elenco está bem, com especial menção as duas atrizes de origem chinesa, Lucy Liu interpretando a mãe e Callina Liang, a filha, cuja história fica em seu entorno. Gostei e recomendo.
Desconhecidos (Strange darling). EUA, 2023, 97 minutos. Horror/Ação. Colorido. Dirigido por JT Mollner. Distribuição: Paris Filmes (nos cinemas)
Uma jovem (Willa Fitzgerald) foge de maneira descontrolada, de carro, de um homem que quer matá-la a todo custo (Kyle Gallner). Ela está sozinha numa estrada perdida, em uma região remota cercada por uma mata. Então bate na porta de uma residência, onde mora um casal idoso (Ed Begley Jr. e Barbara Hershey). Até que o rapaz ensandecido os encontra.
Segundo longa do diretor e roteirista JT Mollner, uma fita de terror de 2023 de baixo orçamento e que somente agora chega aos cinemas brasileiros. São poucos atores em cena, contando com a atriz Willa Fitzgerald, de um filem que está também nos cinemas, o fraquíssimo policial ‘Código Alarum’ (2025 – com Sylvester Stallone e participação da brasileira Isis Valverde) e com o jovem ator Kyle Gallner, de ‘Sorria’ (2022), além da participação dos veteranos Ed Begley Jr. e Barbara Hershey.
Nada é o que parece nesse thriller violento apresentado como terror. Haverá uma reviravolta surpreendente na metade, que, confesso, deixou-me de queixo caído tamanha a ousadia, o que rompe com a tradição de filmes de psicopatas. E o ritmo da fita fica cada vez mais frenético, com cenas sanguinárias – por isso recebeu classificação de 18 anos. Começa pelo meio, e pelos flashbacks vamos concatenando as ideias, entendendo o passado dos dois personagens centrais – eles não têm nome, apenas apelidados de ‘The lady’ e ‘The demon’.
Dos produtores de filmes de terror tensos recentes, ‘Noites brutais’ (2022) e ‘Entrevista com o demônio’ (2023), é uma fita a se conhecer, principalmente fãs do gênero.


Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com

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