Filmes Clssicos de Volta aos Cinemas
O Cinemark exibir alguns dos filmes clssicos consagrados por geraes, confira quais so e a opinio de Rubens Ewald Filho sobre eles
Taxi Driver - Motorista de Táxi (Taxi Driver)
EUA, 1976. Direção de Martin Scorsese. Cor. 113 min. Columbia. Roteiro de Paul Schrader. Fotografia de Michael Chapman. Música de Bernard Hermann. Com Robert De Niro, Jodie Foster, Harvey Keitel, Cybill Shepherd, Peter Boyle, Albert Brooks, Martin Scorsese, Leonard Harris.
Sinopse: Um ex-soldado do Vietnã que sofre de insônia e aceita dirigir um táxi durante a noite. Se encanta com uma garota que trabalha no comitê de um candidato e faz tudo para conquistá-la. Pensa em matar o político mas sua tensão é transferida para um político de 12 anos explorada por um traficante sem escrúpulos. Com um verdadeiro arsenal de armas, Travis resolve partir para um assassinato. Raspa a cabeça como um índio Moicano e vai salvar a garota.
Bastidores: Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, foi indicado aos Oscars® de Filme, Trilha Musical, Ator e Atriz Coadjuvante (Jodie Foster tinha na época 14 anos e interpreta uma prostituta infantil). As cenas de sexo dela foram dubladas por sua irmã de 20 anos, Connie. O autor, Schrader, afirma ter se inspirado num quase assassino Arthur Bremer. Foi a última trilha de Bernard Hermann (Cidadão Kane), que faleceu no dia seguinte após a gravação. Quinze anos depois, um psicopata, John W. Hinckley, assistiu este filme e querendo impressionar Jodie, então com 20 anos, fez como o personagem e tentou matar o presidente Ronald Reagan. Para se preparar para o personagem, De Niro emagreceu alguns quilos e dirigiu um táxi de verdade por Nova Iorque. Sua então mulher Diahnne Abbott faz ponta numa cena de cinema pornô. Em 1999, o roteirista Schrader e o diretor Scorsese se reuniram e fizeram um filme parecido porém mal sucedido, Vivendo no Limite (Bring out the Dead), sobre um motorista de ambulância em Nova Iorque. No filme, De Niro tem a frase mais famosa de sua carreira, improvisada e com problemas de som (ruídos de rua), quando treina com um revólver diante do espelho dizendo: “Você está olhando para mim?”.
Comentários: O tempo foi generoso com Taxi Driver, que não perdeu seu impacto e é ainda o melhor filme de Scorsese. Desde sua estreia, era um retrato de grande força da solidão e neurose de uma grande cidade. Na definição do roteirista, o herói Travis é uma visão norte-americana do personagem existencial Sartre, à maneira de Náusea, só que não tem noção de seu conflito existencial e seu instinto de destruição é dirigido para o exterior. Os americanos que decidem morrer, em vez de cometerem Harakiri, vão para rua e matam alguém, seu desejo de autodestruição é desvirtuado. A história foi motivada por uma canção chamada Taxi, de Harry Chapin, e no fato de Bremer ter tentado matar o governador George Wallace, unindo esses dois fios da meada, foi criado o personagem de Travis. Todo o filme alterna-se entre um clima onírico da paisagem da cidade noturna, românico com a loira Cybill, para explodir numa sequência extremamente violenta. Há ainda uma reviravolta irônica, só para mostrar a moral da história: entre herói e criminoso, há uma linha muito tênue e perdidos na multidão, uma grande quantidade de assassinos em potencial. Além da trilha típica de filme noir, da revelação de Jodie e de um momento glorioso de De Niro, o filme trás Scorsese como um passageiro que fala em matar a esposa (ele também pode ser visto como si mesmo numa cena de rua). Conclui o roteirista: “O filme parece ser realista, mas na verdade passa-se dentro da cabeça do herói, por isso o título sem o artigo definido e a conclusão poética e inesperada”.
Pulp Fiction - Tempo de Violência (Pulp Fiction)
EUA, 1994. Miramax /Disney. 154 min. Direção: Quentin Tarantino. Roteiro dele e Roger Avery. Fotografia: Andrzej Sekula. Direção de Arte: David Wasco. Montagem: Sally Menke. Produção: Danny De Vito. Elenco: John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Bruce Willis, Harvey Keitel, Tim Roth, Amanda Plummer, Maria de Medeiros, Ving Rhames, Eric Stoltz, Rosana Arquette, Christopher Walken, Tarantino, Frank Whaley.
Sinopse: Vários personagens se cruzam em Los Angeles, numa narrativa- não linear, em quatro tramas centrais: dois capangas em missão de resgate, um casal que faz um assalto, uma garota que quase morre de overdose de drogas, um especialista que limpa vestígios de assassinato, uma maleta misteriosa e um lutador que tem que fugir quando recusa entregar uma luta.
Bastidores: Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e do Oscar® de roteiro original (foi indicado também como diretor, ator para Travolta, montagem, ator coadjuvante para Jackson). Consagração do diretor mais influente da década, Tarantino, que sempre admitiu que foi influenciado por outras fitas, principalmente de Hong Kong (como Perigo Extremo/ City on Fire) e acabou provocando uma explosão do cinema independente americano e centenas de imitações. O próprio Tarantino entrou em crise, desenterrando roteiros antigos e mais fracos, insistindo em trabalhar como ator e realizando só outro filme em 1997 (Jackie Brown, 1997). Não custou porém a recompor sua carreira voltando a ter sucesso (outro Oscar® de roteiro em 2013, por Django Livre, indicações também por roteiro e direção por Bastardos Inglórios, 10). Pulp provocou um ressurgimento na carreira de John Travolta, que andava por baixo e ajudou todo o elenco (alguns, como Rhames, viraram astros). Pulp Fiction são aqueles livros baratos com histórias policiais, muito em modas nos anos cinquenta.
Comentários: Sem dúvida, foi o filme da década de noventa. Apenas o segundo longa-metragem de um jovem, ex-atendente de locadora, que de tanto ver filmes, acabou escrevendo roteiros, dirigindo uma primeira fita violenta e promissora (Cães de Aluguel/Reservoir Dogs,1992). Mas nada fazia prever semelhante explosão e sucesso (o filme passaria os cem milhões de dólares em renda nos EUA) e também as sucessivas imitações de estilo e gênero que até hoje continuasse a sentir nas fitas independentes não só americanas. Mas quem esteve como eu na sua primeira sessão de estreia, em Cannes, pode relatar o choque que o filme produziu com suas inovações e situações inusitadas. Começando pela narrativa sem cronologia. Só na metade que você vai perceber que está vendo o fim e não o começo e finalmente as peças do quebra-cabeça começam a se ajustar. Mas principalmente nos personagens amorais, que tem senso de humor, mas se comportam de maneira extremamente curiosa. Os mais marcantes são os dois capangas que trabalham para um gangster, Travolta e Jackson, que tem que resgatar um rapaz que foi sequestrado. Depois de escaparem miraculosamente de um fuzilamento (que faz um deles se converter religioso), matam acidentalmente o rapaz resgatado (o revolver dispara no carro e provoca a maior sujeira, de tal maneira que tem que chamar um sujeito que é especialista nesse tipo de coisa, um personagem que Tarantino sem dúvida copiou um curta-metragem que tinha assistido). Outras cenas são igualmente bizarras, como o estupro do gangster negrão por sado-masoquista, a jovem que praticamente morre de overdose mas precisa ser ressuscitada. O fato é a violência nunca havia sido tratada de tal maneira, com um elenco tão brilhante (todos acertam) e com o tom certo, meio satírico, meio afetuoso, um pouco “noir”, muito contemporâneo. Pouco importa que certas ideias tenham sido emprestadas de fontes alheias, o que vale é que o resultado é muito pessoal, diferente, cheio de surpresas e choques. Uma explosão de talento.
Laranja Mecânica (A Clockwork Orange)
EUA. 1971. Drama. 136 min. Warner. Diretor e roteirista: Stanley Kubrick. Baseado em Livro de Anthony Burgess. Elenco: Malcolm McDowell, Michael Bates, Patrick Magee, Adrienne Corri, Warren Clark, Anthony Sharp.
Sinopse: Num futuro próximo, na Inglaterra, num mundo desolado e violento, gangs de jovens gangsters atacam, estupram e matam. Um deles é treinado pelo governo para ficar condicionado num tratamento de lavagem cerebral que lhe traz repulsa à violência.
Comentários: É uma boa Idea relançar nos cinemas brasileiros este clássico do mestre Stanley Kubrick (1929-99). Até porque, embora nunca tenha sido oficialmente proibido pela censura brasileira (que aconselhava a produtora Warner apenas a não apresentar oficialmente o filme para sua avaliação), só estreou no Brasil em setembro de 1978, assim mesmo com uma cópia que havia sido feita para o Japão, com bolinhas negras para cobrir os pelos pubianos e outros lugares estratégicos. Mas representantes pessoais de Kubrick checaram a cópia e aprovaram as legendas. O jovem Malcolm McDowell havia sido revelado pouco antes em If de Lindsay Anderson e foi ideia dele usar Cantando na Chuva numa cena–chave da fita. Quem prestar atenção verá uma citação de outro filme de Kubrick, 2001(a capa do disco numa loja). Foi indicado ao Oscar® de melhor filme, roteiro e direção. Não ganhou nenhum (até porque a Academia não gostava do diretor). A dificuldade começa pelo título que nunca é explicado. Parece que o autor Burgess (que escreveu o roteiro de Jesus de Nazaré de Zeffirelli e criou a linguagem para o filme A Guerra do Fogo) se inspirou numa velha expressão “cockney” (inglês popular de Londres), que dizia “fulano é doido como uma laranja de corda”. Mais tarde, numa viagem pela Malásia, onde “orang” quer dizer “humano”, lhe deu a ideia de fazer anagramas (“orang”-“organizar”) chegando à uma conclusão linguística: ou seja, o ser humano, quando organizado pelo poder dominante vira uma laranja mecânica. Por isso, também o livro e o filme utilizam vocabulário próprio. Segundo Kubrick, o filme poderia ser interpretado de três maneiras: a) como uma sátira social sobre o emprego de condicionamento psicológico; b) como um conto de fadas sobre a Justiça e o Castigo; c) como um mito psicológico, “uma história construída em torno da verdade fundamental da natureza humana”.
A sátira sobre o condicionamento parece clara no filme, mostrando que a sociedade se baseia no poder e nas mentiras. Tanto da Direita, quanto da Esquerda e em consequência, um homem condicionado a ser bom em todas as circunstancias seria completamente vulnerável. Diz Kubrick: “Temos uma civilização altamente complexa, que requer uma autoridade política e uma estrutura social igualmente complexa. A ideia de destruir a autoridade para surgir a bondade natural do homem é um critério utópico e ‘falacioso’. Todos os nossos esforços vão parar em mãos de desonestos, já que a culpa reside na natureza imperfeita do Homem mesmo”.
Assim Laranja é basicamente uma parábola sobre a manipulação do Homem pelo Estado. Conta a história de Alex (Malcolm McDowell), um jovem revoltado, precursor da moda punk, interessado na chamada “ultraviolência”, sexo e Beethoven, que é escolhido para uma experiência de condicionamento, uma verdadeira lavagem cerebral que o torna refratário à violência, fazendo-o vomitar cada vez que se defronta com um ato violento. O tratamento é sucesso embora por engano Alex tenha ficado também condicionado contra Beethoven cuja música servia de fundo para um dos documentários usados em sua cura. E logo o herói se torna vítima da manipulação política dos Partidos, completamente indefeso é levado ao suicídio pela Oposição e depois utilizado pela Situação novamente. O que o filme está querendo mostrar é que no fundo todos nós somos laranjas mecânicas, estamos sendo submetidos à lavagens cerebrais continuas que nos condicionam e governam, às vezes, de forma subliminar a ponto de não tomarmos conhecimento delas. Às vezes de maneiras mais óbvias, através da solicitações da sociedade de consumo. O filme é um brado de alerta e conscientização contra isso, mas talvez tenha errado numa questão de dose. Ao pedir que nos identifiquemos com um herói como Alex, desordeiro e irresponsável.
A tendência do espectador é ficar a favor do governo, achando que eles fazem muito bem em transformá-lo num “bom cidadão”. Sem perceber a terrível violação dos Direitos Humanos, a violência cometida contra a individualidade que acontece todos os dias sem que nos demos conta. Assim todo comportamento anti-social, os artistas, os gênios, todos aqueles que fogem da chamada “normalidade” seriam também condicionados da mesma maneira. Esse perigo existe porque Alex é um vilão simpático e não é fácil concordar com um diretor frio como Kubrick, que o apresenta como “o homem natural, no estado que veio ao mundo, sem freios ou repressões. Quando recebe o tratamento de Ludovico, pode se afirmar que este simboliza a neurose, criada pelos conflitos entre as restrições impostas por nossa sociedade e nossa natureza primitiva. Por essa razão, ficamos felizes quando Alex se cura”. Será mesmo que todos se alegram? Alguns nem chegam a entender direito a dimensão da cura de Alex.
Essa ambiguidade é um dos problemas do filme que provocou as opiniões mais desencontradas em toda a parte. Certas pessoas se horrorizam com sua violência, mas na verdade ela é estilizada, mostrada quase como uma balé, ou “Pop-Art”. Nunca de forma literal, aliás a trilha musical é extraordinária, com obras de Elgar, Purcell, Puccini e naturalmente Beethoven que dá ao filme muito de sua atmosfera.Tecnicamente o filme abusa um pouco de grandes angulares, lentes deformantes. Mas tem um extraordinário poder hipnótico. Na enigmática cena vitoriana final, há a busca de uma qualidade ideal, procurada por Kubrick. Diz ele “A Laranja se comunica num nível subconsciente e o público reage diante da configuração básica da história, como se fosse um sonho. E discutem o sentido da cena final. Como os outros sonhos mostravam assassinato, dor e morte, a erótica cena final sugere que de alguma maneira, a mente de Alex se transformou e se apaziguou”. Enquanto o livro de Burgess é uma amarga sátira aos paradoxos do livre arbítrio, o filme continua a provocar discussões. Afinal, temos que defender os que não gostam dele. Se não corremos o risco de todos nós acabarmos virando “laranjas mecânicas”.
Os Embalos de Sábado a Noite (Saturday Night Fever)
EUA, 1977. 118 min. Paramount. Direção: John Badham. Roteiro: Norman Wexler (Serpico, Jogo Bruto) baseado em artigo de revista de Nik Cohn. Com John Travolta, Karen Lynn Gorney, Barry Miller, Joseph Call, Donna Pescow, Julia Bovasso, Sam Coppola, Fran Drescher.
Sinopse: Tony Manero tem 19 anos , nasceu e vive no Brooklyn e todos os sábados a noite vai numa discoteca do bairro, onde ele é o rei do lugar, marcando com seu estilo particular de dançar discoteca. Mas fora dali, sua vida não é feliz. Briga muito com o pai e compete com o irmão mais velho que é padre! Também não lhe dá satisfação o emprego num loja de tintas. As coisas começam a mudar quando ele observa Stephanie na disco e passa a treinar para o concurso do clube. Os sonhos dela de atravessar a ponte de morar em Manhattan irão influenciá-lo e no filme seguinte, a continuação Os Embalos de Sábado Continuam (Staying Alive, 83, dirigido por Sylvester Stallone) ele já esta tentando ser bailarino profissional na Broadway.
Comentários: Produzido pelo produtor de discos Robert Sitgwood com a finalidade de promover uma trilha musical original composta pelo grupo inglês The Bee Gees (Berry, Maurice e Robin Gibb) – e absurdamente nunca foi indicada ao Oscar® de trilha e muito menos ainda de canção (só Travolta teve indicação para o Oscar® como ator mas no Globo de Ouro indicaram a canção How Deep is Your Love, mais ator, filme musical, trilha). Da para sentir como foi mal recebido pela crítica este drama (que nem bem musical é, as vozes são off e nem Travolta canta). O Variety fez uma critica destruindo o filme que curiosamente foi descoberto pelo público que o transformou em imenso sucesso de bilheteria por todo o mundo, transformando Travolta em astro e ídolo (Grease estreou logo depois!). Sua maneira de vestir, de andar, de dançar principalmente foi copiado em todo o mundo coincidindo com o auge da moda das discotecas. É estranho notar que ele é basicamente um drama até social, apresentando as condições de vidas dos jovens no bairro nova-iorquino do Brooklyn (o mais frustrante é descobrir que na sequencia dos letreiros que mostra um rapaz andando pelas ruas, de uma maneira particular, na verdade foi feito por um dublê já que Travolta naquele dia estava ocupado com outra coisa e nem apareceu por lá. Ou seja, ficou famoso por engano, por enganar onde não está! Outro detalhe curioso: ninguém além de Travolta ficou famoso por causa do filme (a única figura que depois ficou conhecida é Fran Drescher, mesmo assim como a Nanny do sitcom).
O roteirista do filme Wexler (1926-99) era bipolar e chegou a ser preso por querer matar o presidente americano. Pouca gente ficou sabendo que seu artigo para a revista Saturday Evening Post não era baseado em fatos como dizia mas uma completa invenção! Foi o primeiro filme americano a usar a expressão “blow job”. Algumas cenas foram improvisadas e ficaram no filme, Donna pensou que os rapazes haviam caído da ponte de verdade, e seu grito foi autêntico, Travolta quando apanha no cabelo e reclama também. A irmã de Travolta Ann aparece como uma pizza lady e a mãe Helen é para quem ele arranja a pintura (ela morreria no ano seguinte). Este foi dos primeiros filmes a utilizar a famosa Steadicam. O disco com a trilha musical vendeu mais de 20 milhões de cópias. Na época Travolta (que já era famoso porque participava de uma serie de TV de sucesso, Wellcome Home Kotter) estava em crise, porque sua namorada Diana Hyland estava morrendo de câncer (e a filmagem teve que ser interrompida para poder ir ao funeral). O filme é cheio de palavrões e na época teve censura R (proibida para menores). O diretor de Rocky, o lutador John Avildsen, largou o projeto para ser substituído por Badham (Jogos de Guerra). O título original seria Tribal Rites of the New Saturday Night. Grease foi também produzido pelo mesmo australiano Stigwood (que fez ainda Evita, Gallipoli, Tommy, Jesus Christ Superstar, O Fã Obsessão Cega).
Grease, nos Tempos da Brilhantina (Grease)
EUA. 78. Universal. 110 min. 1978. EUA. Paramount. Diretor: Randal Kleiser. Elenco: John Travolta, Olivia Newton-John, Stockard Channing, Eve Arden, Frankie Avalon, Joan Blondell, Eddie Byrnes, Sid Caesar, Alice Ghostley, Jeff Conaway, Lorenzo Lamas, Didi Conn, Christopher McDonald, Michael Biehn.
Sinopse: Nos anos 50, numa escola secundária, um casal de namorados pertence a turmas diferentes. Por isso não podem se encontrar.
Comentários: Adaptação para o cinema de um show musical que chegou a ter o recorde de apresentações na Broadway. Travolta vinha do sucesso de Os Embalos de Sábado a Noite, e marcou a estreia no cinema da cantora australiana Olivia Newton-John. Os dois voltariam a trabalhar juntos no fracasso de 1983, Embalos a Dois (Two of a Kind). Trás participações especiais de vários astros do passado, inclusive Frankie Valli cantando a música título. Em 1982, houve uma continuação desastrosa, Grease 2 – Os Tempos da Brilhantina Continuam, com a então novata Michele Pfeiffer e Maxwell Caufield, dirigida por Patrícia Birch. Este primeiro foi indicado ao Oscar® de Canção original Hopelessly Devoted to You. Detesto estragar a alegria dos outros, mas apesar deste filme ter fãs devotos que tem saudades dos tempos de Travolta e Olivia, Grease é mal dirigido, tem muito pouco a ver com o show original da Broadway e traz os adolescentes mais velhos do cinema, todos beirando a faixa dos trinta anos. Quando a fita foi realizada, o show já estava sete anos em cartaz (desde então viaja o mundo e os EUA em diversas montagens em 2002 até no Brasil!).
Foi produzido como veículo para a moda Travolta, ou seja, a nostalgia dos anos 50, ficou subordinada ao duvidoso talento do astro. Embora ele tenha melhorado muito nos anos 90, na época, cantava com voz esganiçada, dançava mal e lembrava mais Jerry Lewis do que um galã. O filme também não tem um roteiro digno desse nome. É uma sucessão de sketches satíricos mostrando os costumes da década sobre um enfoque moderno. O diretor Kleiser é o mesmo que realizou o telefilme com Travolta – O Rapaz Embalado em Plástico (antes disso havia sido coadjuvante na Broadway). Sua inexperiência desculpa a falta de imaginação nos números musicais, a inadequação dos atores e a falta de ritmo e vibração da história. Não há desenvolvimento de personagens ou aprofundamento do romance central. O filme é construído em sequências estanques, onde nem sempre conseguem estragar as ideias. Há um prólogo divertido ao som de Love, is a Many Splendored Thing, os letreiros de apresentação com animação, as participações nostálgicas de Joan Blondell (estrela dos anos 30 fazendo uma garçonete, a extraordinária Eve Arden, como diretora da escola dando uma aula de timing de comédia) e até do cantor Frankie Avalon que parece ter sido conservado em formol. Travolta tem uma entrada de estrela, mas parece tão confuso quanto os outros na sucessão de cenas que imitam os filmes “B” da época: concursos de dança, namoro em lanchonetes, corridas de calhambeques e romances em drive-ins. As melhores canções são satíricas, mas a coreografia deixa saudades do tempo em que os astros sabiam realmente dançar.
Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany´s)
EUA. 1961. Paramount. Diretor: Blake Edwards (1922-2010). Elenco: Audrey Hepburn (1929-1993), George Peppard (1928-1994), Patricia Neal (1926-2010), Mickey Rooney (1920-2014), Jose Luis de Villalonga, Buddy Ebsen, John McGiver, Martin Balsam.
Sinopse: Um aspirante a escritor muda para um prédio em Nova York, pago por sua amante casada e rica e fica amigo da vizinha Holly Golightly, uma garota excêntrica, call girl, que sonha em conseguir um marido rico.
Comentários: Não se podemos chamá-lo exatamente um grande filme, ou sequer um clássico. Mas é sem duvida, um filme Cult, um dos maiores momentos da carreira de Audrey Hepburn, que junto com Marilyn Monroe são os dois ícones dos anos cinquenta que continuam a ser cultuados (em particular Audrey, que continua na moda por ter sido a primeira das estrelas com corpo de modelo, ditando as regras que até hoje é seguidas em termos de elegância, classe e magreza!). O filme em particular é um dos mais marcantes ao retratar a cidade de Nova York, há grande numero de locações inclusive na sequência de abertura quando um táxi deixa Holly /Audrey diante da vitrine da joalheria Tiffany´s onde ela toma seu café da manhã (um croissant) olhando as joias (o que a câmera não mostra são as centenas de curiosos que observavam tudo aquilo e inibiram Audrey). Hoje um ritual para qualquer fã de cinema que se preze repetir quando em visita a cidade. Fica na esquina da Quinta Avenida com a rua 57. O apartamento da heroína fica em 167 East rua 71 e há cenas também nessa mesma rua entre Lexington e Terceira Avenida.
Pouca gente se deu conta que este foi o filme que deu uma virada na carreira do diretor Blake Edwards (1922-2010, deixou viúva sua musa Julie Andrews), que antes tinha feito apenas comédias menores (apesar do sucesso de Anáguas a Bordo com Cary Grant) e que a partir de aqui se tornou um dos mestres do humor visual com a série Pantera Cor de Rosa e Um Convidado Bem Trapalhão. Blake também prosseguiu aqui uma parceria com um dos compositores e maestros mais populares do cinema, Henry Mancini (1924-2004), que ele conhecia desde que este fez para ele o tema da série de TV Peter Gunn. Trabalhariam juntos inúmeras vezes (além da Pantera, Vício Maldito/ Days of Wine and Roses, A Corrida do Século, o musical Victor ou Vitória?,entre outros). Aqui Mancini foi o único a ganhar os Oscars® pelo filme, como trilha musical e com canção (Moon River), que ele compôs especialmente para a voz afinada mas pequena de Audrey, porque a musica é numa única oitava (várias pessoas contam nos extras da edição em Blu-ray como o chefe da Paramount na época quis tirar a canção porque achavam que o filme estava longo e reza a lenda que Audrey teria dito, “Só se for por cima do meu cadáver/ Over my dead Body!”). De qualquer forma, a canção é repetida com frequência na trilha musical (já teve mais de 500 gravações) e se tornou um standard.
O filme foi indicado ainda para o Oscar® de melhor roteiro para George Axelrod (1922-2003), mais famoso como o criador de O Pecado Mora ao Lado de Billy Wilder e mais roteiros ( Em Busca de um Homem com Jayne Mansfield, Abaixo o Divórcio com Judy Holliday, Sob o Domínio do Mal com Frank Sinatra, Nunca fui Santa com Marilyn Monroe, Como Matar sua Esposa com Virna Lisi, Quando Paris Alucina também com Audrey). Também foi indicado como Direção de arte e atriz (Audrey, que tinha já ganho por A Princesa e o Plebeu, 1954, seu primeiro papel central, foi indicada também no ano seguinte por Sabrina, além de por Uma Cruz a beira do Abismo, 60, Um Clarão nas trevas, 67, e teve ainda um premio póstumo, o Humanitário Jean Hersholt, o filho Sean Ferrer, que o recebeu, mas o prêmio foi votado antes de sua morte).
Hoje já faz parte da lenda o relacionamento entre Audrey e seu amigo figurinista Hubert de Givenchy que ela tornou famoso. Contam que uma vez ela que entrou em sua loja e ele pensou que foi outra Hepburn, a Katharine. Chegaram a um acordo e ele lhe emprestou algumas roupas para o filme Sabrina (a figurinista da produção Edith Head não identificou o que era dela, o que era de Givenchy, mas hoje todos conseguem diferenciar). Aqui em Bonequinha ela só usa roupas dele - inclusive repetindo vestidos e acessórios – e todas elas se tornaram icônicas (afinal Holly não era rica e não poderia mudar de vestido toda hora). Realmente é uma parceria perfeita e nunca vista antes ou depois.
O filme, porém esta longe de ser perfeito. Seu defeito mais evidente ainda hoje em dia é a presença do já veterano Mickey Rooney fazendo maquiado o papel do vizinho japonês. É uma caricatura exagerada e por vezes ofensiva (ele parece dentuço, de óculos, patético). Embora fosse verdade que havia uma tradição de colocar atores ocidentais maquiados, isso podia ser aceitável nos anos 40, mas não naquele momento (há um bônus no BD chamado “Sr. Yomioshi” onde se discute o caso, onde vários representantes dos atores orientais se queixam disso e o próprio Edwards comenta que na época ele não teve qualquer reclamação, mas que se pudesse mudar alguma coisa no filme agora, seria justamente isso).
O autor Truman Capote que escreveu a novela (romance curto) original nunca aceitou Audrey no papel de Holly (ele preferia Marilyn Monroe, mas a coach dramática dela, Paula Strasberg, era contra ela fazer outro papel de prostituta). Capote considerava completamente Audrey errada para o personagem. Mas a verdade é que na adaptação ela deixou de ser uma prostituta, garota de programa para virar uma mulher livre que vive de aprontos e gorjetas, precursora de hippie. Isso também é explicado porque o livro se passa nos anos 40 (43) e o filme já é no começo dos anos 60. Muita coisa já havia mudado. Também no livro Fred seria homossexual e Holly bissexual (nada a ver aqui). O fato é que Audrey criou um personagem de maluquinha, excêntrica, de forma muito pessoal e encantadora, que consegue convencer. Não fala palavrões, não faz aborto como no livro. É uma garota de bom coração (veja como ela trata o ex-marido feito por Buddy Ebsen de A Familia Buscapé) que faz algum dinheiro por fora dando recados, melhor dizendo “previsões do tempo” para um traficante que está na cadeia. Também o fato do herói ser gigolô é tratado com tal discrição que é visível a intenção do diretor em fazer uma comédia romântica, sobre Nova York.
O texto original foi publicado em 1958 numa edição chamada justamente Breakfast at Tiffany´s (e também na revista Esquire). Várias amigas do autor afirmaram depois terem sido inspiração para o personagem (Carol Matthau, o pintora Bee Dabney , Anky Larrabee, a colunista Doris Lilly). Os direitos para o cinema foram vendidos por 650 mil dólares para os produtores Martin Jurow e Richard Shepherd. E apesar das reclamações a adaptação é muito mais fiel ao livro do que se podia pensar até em detalhes (por exemplo, Audrey canta Moon River com os cabelos enrolados secando, como Capote dizia que Holly fazia).
O outro defeito do filme nem é mencionado no exterior porque americano não entende nada do Brasil mesmo. Mas para a gente fica meio irritante. É profundamente chato se ver o ator espanhol (José Luis de Villalonga, aparece só assim nos créditos, na verdade, era um grã- fino que fingia de vez em quando ser ator, a partir de Os Amantes de Louis Malle. Mas esteve também em muitos filmes como Julieta dos Espiritos de Fellini, Darling e Cléo de Cinco a Sete de Agnés Varda). Ele interpreta (muito mal) um milionário brasileiro chamado José de (sic) Silva Pereira! Quando ela está aprendendo a língua, Holly/Audrey ouve discos em português – uma língua que segundo ela diz teria “4 mil verbos irregulares”, só que de Portugal e chega a falar (mal) uma frase inteira em português (“Eu acho que você está gostando do açougueiro”!). Sem esquecer um pôster da Bahia na parede e uma cabeça de boi! Isso porque ela tenta se casar com ele e se mudar para a sua fazenda no Brasil! Só que a família dele é tão respeitável que depois de um escândalo não poderiam aceitá-la!!!
Quem resiste bem a uma revisão é a figura de George Peppard (em papel que Steve McQueen não pode interpretar porque estava em série de TV), que faz o interesse romântico, o vizinho que se apaixona por ela (que é aspirante a escritor e que é sustentado por uma mulher rica feito pela ilustre Patricia Neal, vencedora do Oscar® por O Indomado de 63). Ele esta bonitão e sincero, dali em diante virou astro, mas sua carreira foi destruída pelo alcoolismo. Patricia Neal reclamava que o ator que ela conhecia antes do Actor´s Studio estava insuportável nas filmagens e que o sucesso lhe tinha subido a cabeça. Audrey também teve problemas com ele, mas os dois ficaram amigos até sua morte.
Em 1966, houve uma tentativa frustrada de transformá-la em musical da Broadway com Mary Tyler Moore e Richard Chamberlain. Nem conseguiu estrear. Reclama Capote: “o livro original era meio amargo, o filme acabou virando uma declaração de amor à nova York, tornando tudo superficial e bonitinho onde era para ser rico e feio”. Em 2013, teve outra versão mal sucedida com Emily Clarke (Game of Thrones) e Cory Michael Smith. Massacrado pela crítica ficou em cartaz por 38 performances e 17 previews. Em 2009, em Londres houve ainda uma versão igualmente fracassada com Anna Friel.
A conclusão é que a gente gosta de certos filmes apesar deles terem defeitos tão óbvios. Por isso mesmo que viram cults e não clássicos. Naturalmente um filme desses é cercado de lendas e informações contraditórias. Falam que Kim Novak e Jean Seberg foram consideradas para ser Holly. Dizem que o diretor John Frankenheimer teria sido contratado para fazer o filme mas que teria sido rejeitado por Audrey, que nunca tinha ouvido falar nele (ela ganhou pelo filme um salário recorde para a época: 750 mil dólares). O filme faz um incrível merchandising do Tiffany´s que abriu suas portas num domingo pela primeira vez desde o século XIX para as filmagens da cena em que ela e Peppard visitam o lugar. Reparem em outros detalhes: o sofá de Holly na verdade é uma banheira cortada pela metade! Audrey afirmava que a cena onde ela expulsa o Gato na chuva foi a mais desagradável de toda sua carreira (na verdade, foram utilizados nove gatos diferentes durante o filme). Nunca se explica porque Holly esta usando um lençol na cena da festa (foi cortada a cena anterior em que ela estava num banho e teve que improvisar um vestido). Aliás essa cena da festa é das mais famosas do filme porque nela Blake Edwards conseguiu exercitar seu talento para a comédia e construção de gags (na cena tem outro futuro vencedor do Oscar®, Martin Balsam). Deve-se muito a Audrey o encanto do filme, a facilidade com que assume o personagem (até com algumas frescuras que ela não se permitia em outras fitas). Embora não convença muito a única cena com o vendedor na joalheria porque ninguém é assim tão atencioso em Nova York, o filme tem dezenas de detalhes memoráveis, desde o gato que não tem nome (depois importantíssimo ao final), a ideia do mean reds (algo tão depressivo que seria pior do que os blues), os closes de Audrey (que parecem terem sido todos feitos com uma gaze suavizando seus traços) , a eficiente e bem datada trilha musical. Tudo isso mais do que suficiente para torná-lo um Cult inesquecível, que algumas bobagens não conseguem estragar.
(CONFIRA A PROGRAMAÇÃO NO SITE DO CINEMARK)
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.