FILMES CLSSICOS NAS TELONAS: PSICOSE, DE HITCHCOCK

Saiba tudo sobre o clssico que o Cinemark exibe nos seus cinemas dias 31, 1 e 4 de fevereiro

30/01/2015 16:53 Por Rubens Ewald Filho
FILMES CLÁSSICOS NAS TELONAS: PSICOSE, DE HITCHCOCK

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Aconteceu no dia 16 de junho de 60 a pré-estreia em Nova York, do maior sucesso da carreira de Alfred Hitchcock (1899-1980). Depois abriria em 4 de agosto em Londres e só no dia 10 de agosto de 1960 em Los Angeles. No Brasil, Psicose chegaria logo depois, fato raro na época, dia 25 de agosto (curiosamente antes do resto do mundo). Em toda parte, seria imenso sucesso se tornando seu maior êxito de bilheteria, tendo considerável influencia em outros cineastas e em todo o gênero. Vamos relembrar o filme que originalmente da Paramount (quando morreu, Hitchcock era um dos grandes acionistas da Universal e dono dos seus principais filmes, depois de determinado número de anos). Então hoje Psicose pertence a Universal. Na verdade, durante a rodagem Hitch já estava rompendo com a Paramount e este filme foi rodado nos estúdios (backlot) da Universal.

 

Ficha Técnica: Psicose (Psycho). EUA, 1960 Direção de Alfred Hitchcock. Preto e Branco. 109 min. Paramount/Universal. Roteiro de Joseph Stephano, baseado em livro de Robert Bloch. Fotografia de John L. Russell. Música de Bernard Hermann. Direção de Arte Joseph Hurley e Robert Clatworthy. Com Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, Martin Balsam, John Gavin, John McIntire, Simon Oakland, Patricia Hitchcock. Disponível  no Brasil em VHS e DVD.

 

Sinopse: Marion Crane, uma jovem que roubou dinheiro de sua empresa, aproveita o fim de semana para fugir. Mas se perde na estrada e se hospeda no Bates Motel, onde é misteriosamente assassinada. A polícia e a irmã dela Lila procuram por seu paradeiro. Mas quem pode saber mais é Norman Bates, que administra o motel junto com sua mãe inválida.

 

A Equipe Técnica: Hitchcock comprou os direitos do livro original e pouco conhecido de Robert Bloch por apenas 9 mil dólares e fez questão de adquirir o maior numero possível de exemplares para que poucos soubessem do final surpresa. Bloch (1917-94) ficaria mais conhecido como roteirista de série de TV de mistério (como Thriller, Alfred Hitchcock Presents, I Spy e até Star Trek - escreveu 3 roteiros  para eles-, Ghost Story, A Garota da Uncle, Monsters etc. É mais lembrado por sua associação com o produtor William Castle, para quem escreveu duas imitações de Baby Jane, Almas Mortas (Strait Jacket, 64) com Joan Crawford e Diane Baker e Quando Descem as Sombras (Night Walker, 65, com Barbara Stanwyck, Robert Taylor). Ou seja, nunca fez nada de importante. Curiosidade: no livro, Norman é gordo, feio, mais velho e desagradável. Em vez de um galã (além disso, ele é mais secundário no livro que não começa com a fuga de Marion). O personagem havia sido inspirado num fato real, Ed Gein, um serial killer que também inspirou Silencio dos Inocentes.

Também era pouco conhecido  o roteirista Joseph Stefano (1922-2006), que havia feito Anna de Brooklyn com Gina Lollobrigida  e Orquidea Negra com Sophia Loren. Depois de Psicose teve uma carreira honrosa em fitas de suspense A Tortura da Suspeita (The Naked Edge, 61), Os Felinos (Eye of the Cat, 69 com David Hemmings), Um Dia para Relembrar  (Two Bits, 95, com Al Pacino, ao que parece autobiográfico). E claro que também telefilmes e séries de TV. Mas tanto para Bloch quanto Stefano, Psicose foi o ponto alto de suas carreiras.

Hitchcock fez Psicose com orçamento baixo - menos de um milhão de dólares, de fato custou 800 mil dólares e rendeu na época mais de 40 milhões! - porque achava que era um filme de risco, utilizando sua equipe técnica da série de TV (Alfred Hitchcock Presents, no Brasil, Suspense, então em seu auge, durando de 1955 a 62, fora outras versões posteriores). Tanto que seu fotografo John L. Russell fez 68 episódios da série e se fixou sempre na televisão. Como se sabe Hitch rodou em preto e branco (pela ultima vez em sua carreira), não só porque era mais econômico mas como achava que a visão de sangue no chuveiro e depois no ralo provocaria engulhos na plateia, que o rejeitaria.

Contou ainda com a ajuda de seu amigo, o excelente compositor Bernard Herrman (1911-75), o mesmo que fez a trilha para Cidadão Kane, de Orson Welles e no final da carreira criaria o tema de Táxi Driver para Scorsese e também trabalhos para Brian De Palma (o mais famoso dos imitadores de Hitchcock) e Truffaut (A Noiva Estava de Preto). Pois Hitch e Hermann tinham uma relação tumultuada, com muitas brigas, mas o compositor era famoso por não se fixar em temas melodiosos mas por inventar momentos de clima (fez também Jason e os ArgonautasMysterious Island e As Viagens de Gulliver, os três de Ray Harryhaunsen). Já havia trabalhado com Hitch antes em Um Corpo que Cai (Vertigo), O Homem Errado, O Homem que Sabia Demais, Intriga Internacional, Marnie (chegou a escrever também para Cortina Rasgada, mas a Universal não gostou e esse foi o motivo da briga (triste verdade, sem a trilha de Hermann os filmes seguintes dele perderam muito e aqui é essencial). Uma curiosidade: Walt Disney teria recusado deixar Hitch filmar uma vez na Disneylândia porque “ele fez aquele filme nojento, Psicose”.

Outro nome importante da equipe é Saul Bass, que Hitchcock chamou para fazer o storyboard da cena do chuveiro. Acho Bass um gênio e vale a pena falar um pouco sobre ele.

 

Saul Bass (1920-1996): O artista que revolucionou a arte da titulagem no cinema. Formado pela Art Students League, começou fazendo cartazes até ser chamado por Otto Preminger para fazer a abertura de alguns de seus filmes mais importantes: Carmen Jones, O Homem do Braço de Ouro, Anatomia de Um Crime, O Cardeal. Desde então sua técnica (com a criação de logotipos) fez escola. Alguns cineastas também começaram a Ihe encomendar storyboards, uma espécie de "desenho de produção” para determinadas sequências mais difíceis de fitas como Psicose, de Hitchcock, Grand-Prix, de Frankenheimer. Trabalhando também para design publicitário, só em 1974 pudemos ver finalmente uma direção sua com uma obra-prima do Cinema Fantástico, Fase IV Destruição, um assustador e envolvente presságio do que seria a humanidade sob o domínio das formigas. Ganhou o Oscar® de Documentário Curta por Why Man Creates, em 1968. Não voltou a dirigir, mas nos últimos anos de sua vida ainda voltou a criar letreiros de filmes, principalmente para seu admirador Martin Scorsese. Morreu em 25 de abril em Los Angeles, vítima de linfoma.

Carreira como desenhista de títulos (PF): 1954 – Carmen Jones, de Otto Preminger. 1955 – Almas em Desespero, de José Ferrer. O Pecado Mora ao Lado, de Billy Wilder. Caminhos sem Volta, de Dmytrik. A Grande Chantagem, de Robert AIdrich. O Homem do Braço de Ouro, de Otto Preminger. 1956 – Redenção de Um Covarde (Johnny Concho), de Don McGuire. Trapézio, de Carol Reed. No Despertar da Tormenta (Storm Center) de Daniel Taradash. Um Homem de 3 Metros de Altura, de M. Ritt. Morte sem Glória, de Aldrich. A Volta ao Mundo em 80 Dias, de M. Anderson. 1957 – Santa Joana, de Preminger. Orgulho e Paixão, de Kramer. Bom Dia Tristeza, de Preminger. Como Nasce Um Bravo, de Quine. 1958 – Um Corpo que Cai, de Hitchcock. Da Terra Nascem os Homens, de Wyler. 1959 – Anatomia de Um Crime, de Preminger. Intriga Intemacional, de Hitchcock. 1960 – Onze Homens e Um Segredo, de Milestone. Spartacus, de Kubrick (também consultor visual). Exodus, de Preminger. 1961 – Amor, Sublime Amor, de R. Wise. Pelos Bairros do Vício, de Dmytrik. Quando o Amar É Cruel, de Garfein. 1962 – Tempestade Sobre Washington, de Preminger. Os Vitoriosos, de Foreman (também o prólogo). 1963 – Nove Horas Para a Eternidade, de M. Robson. Deu a Louca no Mundo, de Kramer. O Cardeal, de Preminger. 1965 – A Primeira Vitória, e Bunny Lake Desapareceu, de Preminger. 1966 – O Segundo Rosto, de Frankenheimer. Com Minha Mulher, Não Senhor, de Panama. Grand-Prix, de Frankenheimer. 1971 – Amigos são para essas Coisas (Such Good Friends), de Preminger. 1975 – Setembro Negro (Rosebud) de Preminger. 1976 – Isto Também era Hollywood (That´s Entertainment Parte II). 1979 – Alien, o Oitavo Passageiro (Alien) de Ridley Scott. 1980 – O Fator Humano (The Human Factor) de Preminger. 1987 – Broadcast News – Nos Bastidores da Notícia (Broadcast News) de James L. Brooks. 1988 – Quero ser Grande (Big) de Penny Marshall. 1984 – Code Name: 84, a Verdade sobre o Vietnã (84 Charlie MoPic) de Patrick Duncan. 1989 – A Guerra dos Roses (War of  the Roses), de Danny De Vito. 1990 – Os Bons Companheiros (Goodfellas), de Scorsese. 1991 – Dr. Hollywood – Uma Receita  de Amor  (Doc Hollywood), de Michael Caton-Jones. Cabo do Medo (Cape Fear), de Scorsese. 1992 – Mr. Saturday Night – a Arte de Fazer Rir  (Mr Saturday Night), de Billy Crystal. 1993 – A Idade da Inocência (Age of Innocence), de Scorsese. 1995 – Duro Aprendizado (Higher Learning), de John Singleton. Cassino (Casino), de Scorsese. A Personal Journey with Martin Scorsese through  American Movies, documentário  de Scorsese.

Diretor: 1963 – The Searching Eye. 1964 – From Here to There. 1968 – Why Man Creates. 1974 – Fase IV – Destruição (Phase IV. Nigel Davenport, Michael Murphy).

 

Continuações e Refilmagem: Psicose teve continuações sempre estreladas por Anthony Perkins (1932-1992), 1) Psicose 2, dirigida por Richard Franklin, em 1983  bem curiosa e digna, até com a presença de Vera Miles. A continuação número 2, de 1986, Psicose 3. foi dirigida por Perkins, que fez um trabalho péssimo e de mau gosto. 3) Houve ainda um telefilme de 1990, Psicose 4 – A Revelação, com Perkins e Henry Thomas como Norman Bates jovem e Olivia Hussey como a mãe (esse tv-movie razoável explica as origens psicológicas que o transformaram em psicopata assassino). Deu origem também a uma lamentável série de TV de curta duração chamada Bates Motel (Idem, 1987). Em 1998 Gus van Sant fez a refilmagem homônima, utilizando o mesmo roteiro com Anne Heche, Julianne Moore, Vince Vaugham e Viggo Mortensen. Foi uma mancha negra na carreira deste diretor pretensioso e que ganhou duas palmas de Ouro em Cannes (uma delas pelos 60 anos do Festival).

 

Bastidores: A aparição habitual de Hitchcock é logo no começo, com cerca de 4 minutos de duração, usando um chapéu de pé diante do escritório de Marion. A voz da mãe Bates, foi dublada pela atriz Virginia Gregg. John Gavin que faz o amante de Janet, mas tarde seria embaixador dos EUA no México, durante o Governo Reagan. A filha de Hitchcock, sua herdeira única, Patricia, faz uma colega de escritório de Janet. Foi o maior sucesso de bilheteria da carreira de Hitchcock. Durante o lançamento do filme, o diretor proibiu a entrada de pessoas no meio das sessões (na época as sessões eram corridas) o que acabou provocando curiosidade e ainda maior êxito. Um choque na época foi matar a estrela do filme na metade da história (Janet, 1927-2004, na época era uma popular estrela há mais de 12 anos, considerada “família” e que havia formado o casal ideal com Tony Curtis). A famosa cena do chuveiro foi planificada por storyboard pelo artista gráfico Saul Bass, mas ao contrário da lenda foi totalmente dirigida por Hitchcock. Janet, que hoje é mais lembrada como a mãe de Jamie Lee Curtis, chegou a escrever um  livro a respeito também foi usada uma dublê de corpo mas apenas dá a impressão de nudez, não se chega realmente a se ver tanta coisa. Foi também o primeiro filme americano a mostrar uma privada, coisa até então proibida pela censura e o truque para isso é que é parte essencial da historia (quando Janet joga um papel rasgado no vaso). Não é verdade a lenda de que Hitch usou água fria para conseguir uma reação de Janet (toda a seqüência levou uma semana para ser rodada). O som da faca é na verdade o som de uma faca penetrando num melão!O Sangue era calda de chocolate Bosco.

A ultima cena do filme (Spoiler) tem em cima da imagem da figura central colocada, superposta, quase subliminarmente a caveira da mãe de Norman. A censura na época quis cortar a cena do chuveiro dizendo que havia nudez (e que se via um bico do seio). Ai há duas versões, uma de que Hitch teria mostrado plano a plano provando que isso não era verdade, outra que os censores de dividiram e devolveram a copia para ser retirada a parte ofensiva (e como não tinha voltou da mesma forma e eles liberaram). Outra coisa que tentaram cortar foi o termo travesti ate que o roteirista provou que esse era um termo técnico cientifico. Hitch recebeu uma carta de um pai ofendido porque a filha não queria mais tomar banho de banheira depois de ter visto o francês As Diabólicas, e agora não queria mais tomar chuveiradas por causa do filme. Dizem que ele teria respondido: “Mande a para lavagem a seco!”. Anthony Perkins ficou tão marcado pelo personagem, que isso prejudicou sua carreira que foi basicamente uma repetição consciente ou não do personagem de Norman Bates. Seu homossexualismo foi disfarçado por um casamento com Berry Benson (Irmã de Marisa e que morreu num dos aviões que foram sequestrados em 11 de setembro de 2001). Perkins faleceu de Aids. Vera Miles e John Gavin ainda estão vivos mas aposentados como atores.

Mais trivia: foram consideradas para o papel de Marion, Eva Marie Saint, Shirley Jones, Lana Turner, Piper Laurie, Martha Hyer, Hope Lange. O diretor embora famoso por não dirigir atores (ele dizia que já os contratava sabendo o que iriam render e só interferia em ultimo caso, se estivessem fazendo algo errado. Como faz Woody Allen hoje). Mas Hitch aliás com toda razão, não gostava nada da interpretação de John Gavin, a quem considerava um canastrão “duro” (ele queria no lugar Stuart Whitman, que é igualmente canastrão!). A casa usada no filme ainda está de pé nos Estúdios da Universal e você pode visita-la na tour deles (note como ela muda de tamanho conforme a perspectiva e ângulo que você fotografa-la). Essa casa foi inspirada num quadro de Edward Hopper, de 1925, chamada House by the Railroad e o quadro esta no Museu de Arte Moderna de Nova York. Quando elenco e equipe começaram a rodar o filme tiveram que jurar (na Bíblia como nos julgamentos) que manteriam segredo sobre o conteúdo do filme (a cena final não constava do script e só foi revelada na hora de rodar para os interessados).

Para dar para nós  a impressão de sermos voyeurs, Hitch usou uma lente de 50 mm na sua câmera de 35 (que resulta o mais próximo possível do que é uma visão de um ser humano, isso é claro na cena em que Norman olha pelo buraco). Perkins ganhou 40 mil dólares de salário (a mesma quantia que Marion rouba). Hitch não recebeu salário (teria direito a 250 mil dólares) em troca de participação nos lucros (o que lhe rendeu 15 milhões de dólares, o que hoje equivale a 170 milhões!). A frase mais famosa do filme é “o melhor amigo de um rapaz é sua mãe”. Está em décimo quarto lugar dentre os melhores filmes de todos os tempos do American Film Institute e em primeiro na lista do AFI de thrillers! Norman Bates ficou em segundo lugar na lista dos vilões. Em todos os cinemas americanos que passou o filme tinha um cartaz em papelão de Hitchcock com o seguinte aviso: “O gerente deste cinema foi instruído como risco de sua própria vida, a não admitir no cinema pessoas depois que o filme já começou. Qualquer tentativa que seja feita por portas traseiras, saída de incêndio ou ventiladores, será rechaçada a força. O objetivo dessa ordem é logicamente ajudar você a se divertir mais com Psicose. Assinado Alfred Hitchcock”.

A cena do chuveiro dura 45 segundos e  tem 78 planos diferentes (em dois a faca toca o corpo de Janet ou sua dublê, Marli Renfro (que havia sido capa da Playboy mas não foi creditada). No trailer do filme, não aparecem cenas dele mas Hitchcock fazendo uma tour pela Universal e chegando até ao banheiro onde ele abre a cortina do chuveiro e Vera Miles grita (Janet não esta disponível). Vera foi por uns tempos a atriz favorita de Hitch e segundo ela, não fez mais porque recusou seus avanços.  Estiveram juntos antes em O Homem Errado (a atriz da Broadway Kim  Stanley foi consultada antes mas recusou porque não gostava de Perkins) e aqui ela usa peruca porque havia raspado a cabeça antes por Cinco Mulheres Marcadas, do mesmo ano. Há. varias referencias a pássaros no filme, Marion é Crane (cegonha), Norman coleciona pássaros empalhados e diz que ela come como um pássaro. O próximo filme do diretor foi justamente Os Pássaros.

(Spoiler) Já quase no final, quando Norman esta na delegacia, o guarda de uniforme que aparece é o depois famoso Ted Knight, o apresentador metido de Mary Tyler Moore Show. No final da cena do chuveiro, quando a câmera recua Hitch recorreu a congelamento da imagem (porque ele achou que o fato da atriz estar viva, obviamente se revelava na pupila dos olhos e no pulsar da veia do pescoço). Psicose foi indicado aos Oscars de atriz coadjuvante (a única vez na carreira de Janet Leigh), fotografia em preto e branco, direção de arte em PB e direção (ele foi indicado antes por Rebecca, 40, Um Barco e Nove Destinos, 44, Quando Fala o Coração, 45, Janela Indiscreta, 54, mas não ganharia nunca. Em compensação lhe deram o premio Irving Thalberg pela carreira de carreira como produtor em 68).

 

Mancadas: Não é verdade que Janet engula saliva depois de seu personagem esta morto. Mas há outras falhas. Por exemplo, um plano do carro Ford 57 que ela ainda não pegou quando esta viajando noutro Ford negro. A mão de Janet muda de posição quando puxa a cortina (polegar para cima e para baixo). A sombra da câmera no rosto da mulher que está com lata de pesticida. Na agencia de carros, os mesmos figurantes vão e voltam incessantemente. No começo do filme a toalha de Sam muda de lado sem ele ter mexido nela. Quando Norman vem correndo para atender Marion no motel, esta chovendo mas ele não ficou molhado. Quando Marion sai do carro para conversar com o vendedor de carros usados dá para ver refletido na porta do carro, o rosto de um técnico da equipe que logo se esconde. Há também outro reflexo de técnico na janela do Motel quando Sam e Lilá estão andando por ela. Alem disso, Lilá e Sam entram no quarto que não esta fechado a chave como seria lógico. Quando o detetive chega no Motel para investigar o céu esta limpo, logo depois fica nublado (pode ser liberdade artística). O filme fixa a data dos acontecimentos em 11 de dezembro mas no extrato de banco de Marion logo depois se vê que é 20 de janeiro. Quando Norman limpa o chão com sangue, a mancha varia de tamanho de uma tomada para outra.

 

Crítica: Foi preciso acontecer a estúpida refilmagem de 1998, feita por Gus Van Sant, para se dar o justo valor ao gênio de Hitchcock. Como foi usado o mesmo roteiro, deu para perceber a inteligência de suas opções no original, de filmar em preto e branco (para o vermelho do sangue não tornar a fita repulsiva), de escolher o elenco certo (não é a toa que Perkins ficou estigmatizado porque seu psicopata é perfeito). A trilha musical de Bernard Hermann ajuda a criar o clima do filme, que de outra forma pareceria arrastado. Há alguns momentos de bravura criativa além, obviamente, da cena do chuveiro (como a morte do policial, a visão da casa dos Bates). Embora não seja o melhor filme do cineasta, seu status legendário marcou todo o gênero de terror e suspense (o filme apesar de Hitchcock ser conhecido como o Mestre do Suspense, não segue a lição do diretor. Segundo este, é Thriller ou filme de mistério, quando um detetive investiga um caso criminal e o assassino ou bandido é descoberto ao final. Ou seja, o publico fica sabendo quem é ele ao mesmo tempo que o investigador. Já suspense é quando o público fica sabendo dos fatos, o público sabe mas não o investigador e dessa forma pode torcer pelo desenlace. Mas como no Brasil, não é usado o adjetivo thriller na falta de outro melhor “suspense” virou um genérico, principalmente com o advento das locadoras. Portanto, Psicose se classifica mais como Terror (Os Pássaros é outro que poderia ser chamado assim).

O fato é que nem o diretor, nem o gênero, nem Perkins que faz o protagonista voltariam a ser os mesmos. E nunca mais você tomou um banho de chuveiro nem frequentou um motel de beira de estrada sem pensar nele. Edipiano, travesti, necrófilo e péssimo gerente de motel, Norman é uma figura fascinante que gerou inúmeras imitações, mas ainda impressiona e assusta.

Mas nem tudo é perfeito. 50 anos deixam sempre sua marca. Perkins já não surpreende tanto e o filme tem momentos em que parece arrastado e também pobre (Hitch adorava usar projeções de fundo, como na cena do carro onde a policia para Marion, que hoje não ficam bem). A explicação psiquiátrica na delegacia que tenta deixar tudo muito claro, hoje parece desnecessária e longa demais. O filme vale mesmo pelas cenas surpreendentes, não apenas a do chuveiro (que é ainda insuperável), mas o ataque ao detetive Balsam nas escadarias e mesmo a surpresa com a mãe. Mas é sempre preciso levar em conta a passagem do tempo e que o público hoje em dia está muito sofisticado e acostumado a ver filmes e resolver mistérios. Até mesmo os criminosos e os crimes sofisticaram-se também. Acreditem que naquela época nem mesmo a palavra psicose e psicopata era do conhecimento geral como atualmente.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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